Dogville

Posted by Felipe C. | Posted in | Posted on 09:23



Meu primeiro post não-informativo do Linguagem Cultural será sobre uma das melhores (se não A MELHOR) atuação de Nicole Kidman que se da no explendoroso Dogville (Idem, 2003, Suécia e EUA) o primeiro filme de uma triologia ("USA - Land of Opportunities" ou no bom português "EUA - Terra das Oportunidades" ) o segundo é Manderlay (2005) e o terceiro, Washington que ainda não saiu do papel.

A história gira em torno de Grace Margaret Mulligan (Nicole), uma jovem moça que ao aparecer em Dogville fugindo de perigosos gagsters que querem a sua cabeça, acaba com tudo de pacato e rotineiro que havia no minúsculo vilarejo.

Dogville é um pequeno povoado localizado no fim de uma estrada que leva atá As Montanhas Rochosas nos EUA. Sua população é composta por um pouco mais do que vinte pessoas (21 para ser mais exato) e não vivem uma vida luxuosa e confortável. Conseguem se manter com a venda de produtos primários que é frequentemente levado para cidade pelo fretista Ben (Zeljko Ivanek) (o único na cidade a possuir um carro). Thomas Edison Jr. (Paul Bettany) um dos moradores do lugar e, juntamente com Grace, personagem principal da trama, é um escritor e durante uma certa noite se depara com uma bela e misteriosa moça que chega ao vilarejo, afobada e transpirando pânico. Ela foge de perigosos gangsters e ao chegar em Dogville encontra-se encurralada e sem saída, uma vez que além de Dogville encontram-se as intransponíveis Montanhas Rochosas. Não pode voltar, pois os malvadões estão na sua cola. A única opção que lhe resta é confiar naquele estranho que vaga pelo vilarejo. Tom concorda em ajuda-la, acobertando-a enquanto ela se esconde nas minas da cidade. No dia seguinte todos os moradores de Dogville se reunem na paróquia para decidir sobre a permanência ou não de Grace no vilarejo. Apesar de desconfiados e após um discurço do apaixonado Tom, os moradores decidem pela sua permanência, mas em troca ela terá que prestar favores braçais para a comunidade.

Nos primeiros dias de Grace os habitantes alegam que não necessitam de sua ajuda, uma vez que era uma comunidade auto-suficiente e indepediam de qualquer trabalho braçal vindo de terceiros. Com o passar das semanas, a perseguição à senhorita Mulligan se intensifica. Policias aparecem com mais frequencia e oferecem uma agradável quantia de dinheiro a quem delatar a localização da foragida. De uma perseguição de gangsters à uma foragida da lei ,é assim que fica a situação da pobre moça. Isso faz com que o vilarejo ponha em pauta a sua permanência em Dogville. É então que Grace começa a passar por situações inumanas para garantir a sua proteção.

"Dogville" é relatada em 10 partes, um prólogo e 9 capítulos. Lars von Trier consegue fazer desse filme, de quase 3 horas, algo estupendo. Uma crítica claramente perceptível à hipocrisia humana, em especial à da Terra do Tio Sam. O nome é outro grande trunfo do filme, Vila dos Cães, pois ao se alimentarem da fragilidade e submissão forçada à qual Grace é submetida, os vilões (pessoas que vivem em vilas, ou não...) agem como cachorros primitivos, movidos pelos seus impulsos animalescos, sem um pingo de humanidade, dó ou compaixão. O próprio Tom acabaria por se mostrar um grande covarde. Nem as crianças livram-se da acusação, usam várias artimanhas para subornar e submeter a pobre Grace. Trier consegue, de modo explendoroso, corromper todas as almas em cena, sem excessão.

Uma coisa que, desde a abertura da película, chama a atenção é o cenário, ou melhor, a falta de um. Em cena, observamos apenas as personagens, e alguns parcos móveis espalhados. O que define cada locação são alguns quadriláteros rabiscados no chão, delimitando, então, os imóveis. Há a presença de arbustos e atalhos, mas todos, igualmente desenhados no chão. Foi influenciado por um movimento cinematográfico chamado Dogma 95 que teve como um de seus precursores o próprio Lars von Trier e que defende o não uso de qualquer tipo de tecnologia na produção de um filme (com excessão à edição e uso de câmeras, mas mesmo estes possuem fortes restrições). Só não integra totalmente o movimento por fazer uso da iluminação artificial e algumas peças do cenário que eram proibidos pelo Dogma 95.

O filme foi gravado num estúdio da Suécia e tem uma forte presença teatral na sua composição.


Nicole Kidman nos da uma EXCEPCIONAL performance. É algo equiparável a sua atuação em "As Horas" onde nos assombrou com uma sombria (enfase ao sombria) Virginia Woolf. A sua indiferença aos maltratos sofridos, levando o controle de suas emoções ao extremo é uma coisa de louco. O espectador fica abismado com as atrocidades cometidas contra Grace, mas Nicole mostra um controle absoluto. Até quando chega ao ponto de não aguentar mais e deixar que suas lágrimas lavarem aquele rosto sofrido sua atuação é impecável. No final vemos uma troca de personalidade instigante e apavorante. Ok, ok, chega de spoilers.

Em 2003 "Dogville" concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes, mas acabou perdendo para o não menos ótimo "Elefante" de Gus Van Sant. É fato que o filme foi esnobado por várias premiações americanas (inclusive pela Academia) já que, pelo menos, Nicole e Paul Bettany mereciam indicações, sem contar o roteiro explendoroso que nos foi apresentado. Vale a pena (e como vale) dar uma espiada nesse filme, algo que não irá te decepcionar, é o grandioso e ousado final preparado por Trier. Um filme que chocou os americanos por criticar a sua tão perfeita sociedade é digno de ser visto. Você pode estar vivendo numa Dogville nesse momento.

Trailer para dar uma saborzinho à mais.



Comments (2)

Foi...Chocante!!
Devo dizer meu caro, que essa postagem foi uma coisa que não poderia ser dito apenas como uma simples postagem sobre filme. Você fez disso algo que não poderia de qualquer modo ser descrito como monótono. Para muitos (e até para mim), tenho a ousadia de dizer que coisas como esta, passam despercebidos ao nossos olhos, mas você junto com outros (provavelmente deve haver outros) estão fazendo com que isso vá em uma unica direção, que seria o fim.
Chega de enrolação...
(Comentário geral de tudo que vi aqui...até agora)
Parabêns Felipe, está fazendo um grande e exuberante trabalho. Suas postagens estão ficando estupendas, elas não ficam apenas com um proposito, elas se tornam ao mesmo tempo engraçadas e convidativas, interessantes e ponderadas. Enfim, qualquer leitor, crítico ou coisas do tipo, ficariam extremamente encantados com sua performance (eu acho).

obs: continue assim...você vai longe.
*-*

Nossa Felipe, os posts estão muito bem comentados. Bem, eu ja sabia desse seu dom de escritos.. hehehe...e é claro de apreciador das boas filmologias e literaturas no geral. Continue nesse caminho filho ;)

ps: Dogille é um filme que eu tenho muitaaaa curiosidade em ver, e o que me espantou foi saber sobre o cenário, me deixou com mais vontade de assisti-lo xD

Postar um comentário