Meu primeiro post não-informativo do Linguagem Cultural será sobre uma das melhores (se não A MELHOR) atuação de
Nicole Kidman que se da no explendoroso
Dogville (Idem, 2003, Suécia e EUA) o primeiro filme de uma triologia ("
USA - Land of Opportunities" ou no bom português "EUA - Terra das Oportunidades" ) o segundo é
Manderlay (2005) e o terceiro, Washington que ainda não saiu do papel.
A história gira em torno
de Grace Margaret Mulligan (Nicole), uma jovem moça que ao aparecer em Dogville fugindo de perigosos gagsters que querem a sua cabeça, acaba com tudo de pacato e rotineiro que havia no minúsculo vilarejo.
Dogville é um pequeno povoado localizado no fim de uma estrada que leva atá As Montanhas Rochosas nos EUA. Sua população é composta por um pouco mais do que vinte pessoas (21 para ser mais exato) e não vivem uma vida luxuosa e confortável. Conseguem se manter com a venda de produtos primários que é frequentemente levado para cidade pelo fretista Ben (
Zeljko Ivanek) (o único na cidade a possuir um carro). Thomas Edison Jr. (
Paul Bettany) um dos moradores do lugar e, juntamente com Grace, personagem principal da trama, é um escritor e durante uma certa noite se depara com uma bela e misteriosa moça que chega ao vilarejo, afobada e transpirando pânico. Ela foge de perigosos gangsters e ao chegar em Dogville encontra-se encurralada e sem saída, uma vez que além de Dogville encontram-se as intransponíveis Montanhas Rochosas. Não pode voltar, pois os malvadões estão na sua cola. A única opção que lhe resta é confiar naquele estranho que vaga pelo vilarejo. Tom concorda em ajuda-la, acobertando-a enquanto ela se esconde nas
minas da cidade. No dia seguinte todos os moradores de Dogville se reunem na paróquia para decidir sobre a permanência ou não de Grace no vilarejo. Apesar de desconfiados e após um discurço do apaixonado Tom, os moradores decidem pela sua permanência, mas em troca ela terá que prestar favores braçais para a comunidade.
Nos primeiros dias de Grace os habitantes alegam que não necessitam de sua ajuda, uma vez que era uma comunidade auto-suficiente e indepediam de qualquer trabalho braçal vindo de terceiros. Com o passar das semanas, a perseguição à senhorita Mulligan se intensifica. Policias aparecem com mais frequencia e oferecem uma agradável quantia de dinheiro a quem delatar a localização da foragida. De uma perseguição de gangsters à uma foragida da lei ,é assim que fica a situação da pobre moça. Isso faz com que o vilarejo ponha em pauta a sua permanência em Dogville. É então que Grace começa a passar por situações inumanas para garantir a sua proteção.
"Dogville" é relatada em
10 partes, um prólogo e 9 capítulos.
Lars von Trier consegue fazer desse filme, de quase 3 horas, algo estupendo. Uma crítica claramente perceptível à hipocrisia humana, em especial à da Terra do Tio Sam. O nome é outro grande trunfo do filme, Vila dos Cães, pois ao se alimentarem da fragilidade e submissão forçada à qual Grace é submetida, os vilões (pessoas que vivem em vilas, ou não...) agem como cachorros primitivos, movidos pelos seus impulsos animalescos, sem um pingo de humanidade, dó ou compaixão. O próprio Tom acabaria por se mostrar um grande covarde. Nem as crianças livram-se da acusação, usam várias artimanhas para subornar e submeter a pobre Grace. Trier consegue, de modo explendoroso, corromper todas as almas em cena, sem excessão.
Uma coisa que, desde a abertura da película, chama a atenção é o cenário, ou melhor, a falta de um. Em cena, observamos apenas as personagens, e alguns parcos móveis espalhados. O que define cada locação são alguns quadriláteros rabiscados no chão, delimitando, então, os imóveis. Há a presença de arbustos e atalh
os, mas todos, igualmente desenhados no chão. Foi influenciado por um movimento cinematográfico chamado
Dogma 95 que teve como um de seus precursores o próprio Lars von Trier e que defende o não uso de qualquer tipo de tecnologia na produção de um filme (com excessão à edição e uso de câmeras, mas mesmo estes possuem fortes restrições). Só não integra totalmente o movimento por fazer uso da iluminação artificial e algumas peças do cenário que eram proibidos pelo Dogma 95.
O filme foi gravado num estúdio da Suécia e tem uma forte presença teatral na sua composição.
Nicole Kidman nos da uma EXCEPCIONAL performance. É algo equiparável a sua atuação em
"As Horas" onde nos assombrou com uma sombria (enfase ao sombria)
Virginia Woolf. A sua indiferença aos maltratos sofridos, levando o controle de suas emoções ao extremo é uma coisa de louco. O espectador fica abi
smado com as atrocidades cometidas contra Grace, mas Nicole mostra um controle absoluto. Até quando chega ao ponto de não aguentar mais e deixar que suas lágrimas lavarem aquele rosto sofrido sua atuação é impecável. No final vemos uma troca de personalidade instigante e apavorante. Ok, ok, chega de spoilers.
Em 2003 "Dogville" concorreu à Palma de Ouro no
Festival de Cannes, mas acabou perdendo para o não menos ótimo "
Elefante" de
Gus Van Sant. É fato que o filme foi esnobado por várias premiações americanas (inclusive pela
Academia) já que, pelo menos, Nicole e Paul Bettany mereciam indicações, sem contar o roteiro explendoroso que nos foi apresentado. Vale a pena (e como vale) dar uma espiada nesse filme, algo que não irá te decepcionar, é o grandioso e ousado final preparado por Trier. Um filme que chocou os americanos por criticar a sua tão perfeita sociedade é digno de ser visto. Você pode estar vivendo numa Dogville nesse momento.
Trailer para dar uma saborzinho à mais.