"In a moment the world changed forever."
Vocês devem estar se perguntando por que diabos esse filme está aqui já que não recebeu nenhuma indicação ao Oscar. O motivo é simples: ele deveria estar. Juntamente com "Brilho de uma Paixão" (que foi indicado apenas à categoria de Melhor Figurino, e merecia ser em, pelo menos, mais umas 3), A Estrada (The Road, EUA, 2009) foi o filme injustiçado do ano. Das premiações mais importantes foi lembrado apenas no BAFTA (O "Oscar" Britânico) na categoria de Melhor Fotografia.
Adaptado do livro homônimo, ganhador do Pulitzer de Ficção, de Cormac McCarthy, o também autor de "Onde os Fracos não tem Vez", que narra a história de um homem e seu filho que lutam para conseguir sobreviver em um mundo pós-apocalíptico, onde o caos reina e quase não é possível encontrar alguma humanidade nos seres humanos que sobreviveram ao misterioso cataclisma. Não é comentado, em momento algum, o que transformou as paisagens da Terra em cinzas. É apresentado um homem (Viggo Mortensen, que da um show de atuação) que juntamente com seu filho (o australiano Kodi Smit-McPhee que também faz um ótimo trabalho) seguem por uma estrada rumo ao sul do país para poderem sobreviver ao inverno que se aproxima. Além de terem que resistir às péssimas condições climáticas, à fome e à sede, tem que tomar um cuidado especial com os únicos predadores que sobreviveram ao cataclisma: os próprios seres humanos. Canibalismo é o que as pessoas mais temem. Uma das cenas de maior tensão envolve uma bela casa, um grupo de canibais e vários prisioneiros. A intenção principal da trama é mostrar a relação de pai e filho e consegue transmitir com sucesso tanto no filme quanto no livro.
Mortensen deveria, sem dúvida, ter sido indicado por sua brilhante performance em "A Estrada" (a dúvida fica em quem deveria sair para ele entrar). Kodi Smit também realiza um ótimo trabalho que está fazendo sua carreira deslanchar (foi escalado para a refilmagem do sueco "Deixa Ela Entrar" e mais dois filmes).E apesar de uma curtíssima aparição, Robert Duvall brilha em cena. É um filme que consegue transmitir sutileza mas também é um tanto quanto pesado. O pouco conhecido John Hillcoat fez um trabalho que poderia facilmente entrar na categoria principal do Academy Awards desse ano (em vista da indicação de filmes como "Um Sonho Possível" e "Up - Altas Aventuras", não que sejam ruins, mas "A Estrada" é superior), Viggo também poderia estar entre os 5 Melhores Atores (como já mencionei); Kodi já uma questão mais delicada (esse ano foi o ano das interpretações infantis: o já mencionado Smit-McPhee, Max Records em "Onde Vivem os Monstros" e Saoirse Ronan em "Um Olhar do Paraíso" também estão fenomenais) que desenvolveu muito bem seu papel, mas acho que não teria muitas chances de entrar na categoria ao lado de grandes nomes que ficaram de fora (como Alfred Molina e Peter Saarsgard), talvez Robert Duvall tivesse mais chances, só que o tempo que permanceu em cena é ínfimo, mas assustadoramente comovente e brilhante. Não podemos esquecer da parte técnica do filme: uma fotografia maravilhosa de uma paisagem degradada e decadente, é tão magnífica que o cinza se torna um plano de fundo estupendo. A direção de arte é outro ponto forte da obra e a trilha sonora composta por Nick Cave e Warren Ellis é uma das mais belas do ano (acho que só perde para a de Abel Korzeniowski de Direito de Amar). Uma edição excelente e também uma ótima adaptação do livro de McCarthy. Foi realmente uma pena não termos visto "A Estrada" entre os indicados do Oscar 2010, mas não percam a chance de ver esse ótimo filme e se poderem leiam o livro também. Sensacional!