Cisne Negro
Posted by Felipe C. | Posted in Darren Arronofsky, Filmes, Natalie Portman, Oscar 2011 | Posted on 08:47
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"I just want to be perfect."
Pessoal, estou de volta! Estive viajando algumas semanas atrás e, para completar, meu computador quebrou. Agora que já tá tudo arrumado, vamos que vamos.
O mais novo filme de Darren Arronofsky, Cisne Negro (Black Swan, EUA, 2010), indicado a 05 Oscar, que tem arrancando aplausos calorosos e conquistado plateias ao longo do mundo, e que, no domingo retrasado (16), rendeu a Natalie Portman o Globo de Ouro de Melhor Atriz (Drama), uma das categorias mais ovacionadas da cerimônia, pode ser considerada a mais nova obra-prima de Hollywood. A história se passa no mundo do balé contemporâneo em Nova Iorque, onde uma companhia de dança se prepara para a apresentação de uma das obra-primas de Tchaikovsky: O Lago dos Cisnes. Foi anunciado que uma das bailarinas veteranas, Beth Macintyre (Winona Ryder), iria se aposentar (não que ela desejasse, mas de uma certa forma foi forçada) e não participaria da apresentação. Logo, alguém teria que preencher a vaga da Rainha dos Cisnes, a personagem principal da peça. É então que surge a oportunidade para a doce Nina Sayers (Portman), uma das melhores e mais dedicadas dançarinas da companhia, ter um papel de destaque que sempre sonhou.
Pressionada pela sua obcecada mãe, Erica Sayers (Barbara Hershey), Nina dedica-se integralmente à dança. Aquela vê nesta a oportunidade que lhe escapou quando ainda realizava suas performances nos palcos de Nova Iorque, vê uma maneira de superar suas frustrações através da filha. Para Nina, é mais do que uma obrigação se tornar a Rainha dos Cisnes, é um presente para sua amada mãe e a si mesma.
Não há dúvidas que Sayers é uma das favoritas do diretor artístico Thomas Leroy (Vincent Cassel), consegue realizar os movimentos com grande graciosidade e delicadeza, que são necessários para a incorporação da pureza do Cisne Branco. Porém, a Rainha dos Cisnes não interpreta somente o Cisne Branco, deve também fazer o papel do Cisne Negro, e é aí que Nina não consegue exprimir a astúcia, malícia e sensualidade típicos da personagem. A supremacia da bailarina é colocada em risco depois da chegada da misteriosa Lily (Mila Kunis), que, com o passar do tempo, mostra ser a perfeita personificação do Cisne Negro.
Com uma rival a altura para poder lhe tomar o papel principal, e diante de sua obsessão para incorporar A Rainha dos Cisnes, Nina começa a se sobrecarregar tanto física quanto psicologicamente. Seu corpo fica desgastado e sua mente acaba entrando num surto psicótico, onde é praticamente impossível para o telespectador, e para própria Nina distinguir, a verdade das suas alucinações.
Apesar de gostar mais do segundo longa de Aronofsky, "Réquiem para um Sonho", não posso deixar de afirmar que "Cisne Negro" é a sua obra-prima, recebeu um grande reconhecimento internacional, e não apenas pelas suas excelentes atuações, como ocorreu com o já mencionado "Réquiem para um Sonho" e "O Lutador". Não vou dizer que é seu filme mais "maduro", pois todos os seus anteriores também o foram, mas é o mais "sólido" de sua carreira.
O filme é impecável em tudo aquilo que se propõe, destacando as atuações, em especial as de Natalie Portman e Barbara Hershey, quando ambas estão em cena é um show!
Natalie entrega o trabalho de uma vida, sua Nina se transforma da água para o vinho, assim como o Cisne Branco se torna o Negro, uma transformação sutil e poderosa. Consegue transmitir a loucura, a insanidade que arrebenta sua mente pouco a pouco. Uma decadência psicológica perceptível graças a uma potente lupa chamada Natalie Portman. Cada cena é magistralmente conduzida pela atriz, cada expressão, cada traço de alegria ou desespero. Ela nos faz mergulhar em sua loucura, com que nos afundemos junto com ela.
O aspecto técnico é muito importante e muito bem executado. A translocação da plateia para uma companhia de balé é soberba, mostrando o dia-a-dia dos dançarinos, seus ensaios, as dificuldades e os prazeres de dançar numa companhia prestigiada. Destaque para a direção de arte e figurino.
O roteiro, sombrio e obscuro, consegue delinear com precisão a dubiedade crescente dentro da personagem principal, deslocando-a da realidade para suas paranóias, sem fazer com que o espectador perceba ,até o último instante, que o que parece, na verdade não é. A direção de Darren prova-se, mais uma vez, ser uma das melhores dessa nova geração de cineastas e que, finalmente, teve um devido reconhecimento nas premiações.
Outro dos milhares de pontos positivos a fazer ressalva sobre o filme, é a parceria Darren Aronofsky + Clint Mansell. Não só o filme é a obra-prima de Aronofsky, como a sua trilha sonora pode ser considerada a obra-prima de Mansell. Este faz uma releitura, ouso até mesmo dizer, uma recriação da obra de Tchaikovsky. A partir das faixas de "O Lago dos Cisnes", Clint Mansell as adapta para a vida de Nina, transpondo para a tela a sua anima, o seu íntimo. Apesar de ser o filme mais bem recebido de Aronofsky pelo Oscar, até agora foi esnobado em categorias que, inegavelmente, deveria participar, como melhor roteiro, direção de arte, figurino, e, infelizmente, na sua inominável indicação a melhor trilha sonora.
A película pode não ser (e provavelmente não vai) a grande vencedora da noite do Oscar, mas não há dúvidas de que é a melhor entre as 10 que estão no páreo.